Mar: assim não vamos lá

Date: May 5, 2015

Portugal deveria ser o paladino da implementação de disposições que efetivamente protejam os ecossistemas marinhos vulneráveis em todo o Nordeste Atlântico.Considero-me um privilegiado por ter nascido numa época em que pude usufruir do mar ainda com um sentido de aventura. E por viver numa nova época em que o conhecimento e as tecnologias permitem olhar profundamente. Atualmente, estamos a desvendar os segredos das mais ínfimas moléculas e até o modo de funcionamento dos mega-ecossistemas.

Durante a minha vida, tive a sorte de estar envolvido no estudo do grande Atlântico a bordo dos mais modernos navios oceanográficos. Realizei mergulhos a grandes profundidades em submersíveis tripulados. Tive a sorte de viver numa época onde a cooperação científica estava a crescer sob a égide do “Direito Internacional do Mar”, que apela a uma utilização sustentável e pacífica dos oceanos, baseada no conhecimento científico. Durante esse tempo, uma geração de cientistas inventariou a biodiversidade marinha, estudou a conectividade e os complexos saldos biogeoquímicas envolvidos no funcionamento dos ecossistemas marinhos. Ao longo de 30 anos, experimentei a singularidade, a diversidade e a fragilidade destes ecossistemas oceânicos. Durante este período, aprendi também como as atividades humanas tiveram impactos na estrutura, diversidade, função e serviços dos ecossistemas marinhos.

Iridogorgia standing at Saldanha hill, Azores. (C) DOP/EMAM
Iridogorgia standing at Saldanha hill, Azores. (C) DOP/EMAM

Por isso, entre o que vivi e o que aprendi, tirei uma lição que tenho procurado aplicar e divulgar. O cientista do século XXI tem uma tripla obrigação: a de descobrir, a de ensinar e, ao mesmo tempo, a de ser um defensor da conservação dos oceanos, pois conhece a essência do problema. O cientista deve envolver-se politicamente. Tenho tentado fazê-lo.

Assim, para além dos esforços para aumentar o conhecimento do oceano, envolvi-me ativamente em iniciativas para protegê-lo a nível regional, nacional e internacional. Em 2006, participei em várias reuniões ministeriais em diversos países da UE que levaram à adoção de importantes resoluções na Assembleia Geral das Nações Unidas tendo em vista proteger os ecossistemas marinhos vulneráveis (EMV) do mar profundo. Estive também envolvido no trabalho que conduziu ao estabelecimento das primeiras áreas marinhas protegidas do mar profundo e até de alto mar no âmbito da Convenção OSPAR, os campos hidrotermais Lucky Strike e Rainbow e os montes submarinos Sedlo, Altair e Anti-Altair, por exemplo

 

Eurodeputado do Partido Socialista

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